Resenha do livro "O pequeno manual antirracista"
A importância de entender o racismo como um sistema de opressão enraizado em nossa sociedade e não somente um simples ato voluntário.
Em uma enquete que fiz recentemente, notei que grande parte dos leitores que me acompanham demonstraram interesse em ler sobre o “O pequeno manual antirracista” da Djamila Ribeiro. Por isso, este é o livro da vez.
Assim como o título sugere, também serei breve nesta resenha afim de preservar as melhores passagens para não estragar o seu momento de leitura. E, desde já, ouso dizer que a reflexão sobre o conteúdo encontrado neste pequeno manual é obrigatória para todos nós. É indiscutível a necessidade de fazer a nossa parte em relação ao racismo, então se você está em dúvida sobre como começar, este pode ser o primeiro passo.
Informe-se sobre o Racismo
Em pouco mais de 120 páginas, a filósofa e ativista Djamila, trás de forma acessível e objetiva onze lições para entender as origens do racismo e o que podemos fazer para combatê-lo no nosso dia-a-dia. Através de uma incontável quantidade de referências bibliográficas de relevância, ela nos guia neste caminho de conscientização afim de entender porque essa luta é de todos nós!
Basicamente, os fatos apresentados por ela trazem uma realidade que muitos não vemos e, às vezes, até mesmo ignoramos. Segundo uma pesquisa realizada pela Datafolha em 1995, “89% dos brasileiros admitiam existir preconceito de cor no Brasil, mas 90% se identificavam como não racistas.”, e por isso precisamos entender que a maior parte de nós praticamos o racismo sem mesmo perceber.
Segundo a autora, o primeiro passo para resolver um problema é identificar e tomar consciência de sua existência. Além disso, precisamos entender que o problema em questão está enraizado na nossa sociedade há muitos anos de forma estrutural e quando o ignoramos, estamos contribuindo com sua perpetuação.
"É importante ter em mente que para pensar soluções para uma realidade, devemos tirá-la da invisibilidade."
O Brasil é a maior nação negra fora da África
O Brasil é a maior nação negra fora da África, e ainda assim vemos nossas crianças aprenderem sobre a cultura europeia em uma posição de superioridade, quase como um ideal a ser seguido. Enquanto isso, mal falamos sobre a importante influência da cultura Africana e Indígena na nossa vida.
Mesmo com mais de 56% do país se auto-declarando negro, o Brasil possui um abismo social atrelado a discriminação racial que nos obriga a questionar — enquanto brancos, privilegiados — porque nos lugares que frequentamos, muitas vezes, as únicas pessoas negras estão servindo mesas, limpando ou sofrendo opressões pelo nosso sistema de segurança que justifica todas suas ações com o famigerado título de “Guerra às drogas”.
As reflexões provocadas pela autora, principalmente para aqueles que estão em seu primeiro contato com o assunto, são imensas. Nos faz questionar nosso papel na sociedade de forma sútil e ao mesmo tempo incisiva. A coletânea de fatos que encontramos nestas páginas contribui para a formação de novos conceitos que são fundamentais para a ajuda nesta luta.
Assim, situações que antes se mostravam naturais como a necessidade de inglês fluente no currículo, agora são apresentadas como uma imensa barreira entre aqueles que tiveram condições financeiras de estudar uma segunda língua e aqueles que tiveram que lutar diariamente para que somente o ensino básico fosse adquirido.
“Não deveria ser normal que, para conquistar um diploma, uma pessoa precise caminhar quinze quilômetros para chegar à escola, estude com material didático achado no lixo ou que tenha que abrir mão de almoçar para pegar um transporte.”
Sejamos todos antirracistas
Assim como é dito no livro, “precisamos ir além do que já conhecemos”. Dar o primeiro passo é fundamental, por isso, quero te convidar a fazer a leitura do Pequeno Manual Antirracista, e mais, leve os aprendizados dele para o seu círculo de amizade e trabalho.
Só através da disseminação do conhecimento chegaremos a consciência coletiva necessária para erradicar esse mal que destrói tantas vidas, talentos e histórias.
E não se esqueça: quando ler o livro, me conte o que achou!
Forte abraço,
– Stéfano B. Girardelli.